domingo, 17 de agosto de 2008

Época de caça abre com mais polémicas | Cerca de 40 mil caçadores podem, a partir de hoje, atirara mais patos e mais cedo. Ambientalistas estão contra

("Jornal de Notícias", 15 de Agosto de 2008, Por Eduarda Ferreira)

Patos, rolas e pombos tiveram esta quinta-feira um nascer de dia difícil, talvez fatal. Abriu a caça a estas espécies e, se todos os praticantes deram mesmo uso à licença que já "tiraram", 40 mil saíram aos campos a exercitar o gatilho.

O calendário venatório foi desta vez publicado em plena Primavera, uma antecipação de meses face a anos precedentes.

Do feito oficial, gaba-se por reflexo a Federação Portuguesa de Caça (Fencaça), cujo presidente, Jacinto Amaro, garante que o teor da portaria (345-A de 30 de Abril) "foi, pela primeira vez e integralmente, da inteira responsabilidade das organizações da caça".

O mesmo responsável congratula-se pelo retorno ao calendário usual antes de 2005, quando era também permitido caçar aquelas três espécies logo em Agosto. Um prazo então adiado por parecer do Instituto para a Conservação da Natureza, a que Jacinto Amaro não reconhece o saber do terreno. Em causa estão não só o pombo, os patos e as rolas, mas também a dilatação do calendário relativamente a algumas espécies migradoras e ao começo da sua época de acasalamento.

A Liga para a Conservação da Natureza e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves consideram que "as novas regras põem em risco a gestão sustentável dos recursos cinegéticos e violam normas da Comissão Europeia", em particular no que toca à protecção das aves migradoras. E isto, afirmam, não só porque foi antecipado e prolongado o calendário, sobrepondo-se este ao período de migração e de começo da reprodução de algumas espécies. O número de peças autorizadas a cada caçador foi também aumentado, e significativamente, no caso dos tordos e das narcejas, consoante assinalam.

Questões como estas considera-as Jacinto Amaro "estranhas teorias", afirmando também que "não recebemos lições do INC" e invocando que sustentabilidade dos recursos cinegéticos é o desígnio maior dos próprios caçadores, que não aceitariam algo prejudicial para as épocas próximas.

Por outro lado, argumenta que um encurtamento do calendário só favorecerá outros países, como a Espanha, que estão na rota das migradoras (pombos e tordos podem lá ser caçados até meados de Março). "Proibimos aqui em Fevereiro e os nossos caçadores iam depois matar essas espécies ao país vizinho ainda em Março", argumenta o presidente da Fencaça. Jacinto Amaro afirma ainda que "quaisquer limitações só podem ter consequências benéficas se tiverem o acordo dos caçadores" e que o ordenamento da caça, através de terrenos que o próprio praticante paga, pouca ou nenhuma margem deixará para abusos. "No terreno livre é que tinham essa perspectiva", assegura.

Portugal terá cerca de 300 mil caçadores, mas metade deles serão "flutuantes", ou seja, cerca de 150 mil costumam anualmente "tirar" a sua licença, no valor de 60 ou 30 euros, consoante seja de âmbito nacional ou regional.

Presentemente, já é possível comprar a autorização individual através do multibanco e, a esta despesa, há que acrescentar a de um seguro de responsabilidade civil, que é obrigatório.

A maioria dos caçadores guarda-se para o Outono e começo do Inverno. Neste meio de Agosto, haverá nos campos um máximo de 40 mil praticantes. Sobre todos eles, o presidente da Fencaça diz que têm "uma ética ou não serão caçadores de verdade".

Entre as regras, consta a de não abandonarem os seus cães (Jacinto Amaro diz que não são de caçadores os que se vêem sem rumo nas estradas e aldeias).

E até a vestimenta de camuflado está a ser rejeitada, porque ser "negativa e associada à guerra" . A moda também já chegou à actividade e nela não constam fardas.