quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Regressam as "Touradas de Beneficência" - Por favor, tome posição

Regressam as "Touradas de Beneficência" : "Ajuda de Berço" e Comunidade Vida e Paz dizem "SIM" a dinheiro manchado de sangue, enquanto Refúgio Aboim Ascensão diz "NÃO" à tortura de animais como forma de angariar apoios para o seu trabalho – Por favor, tome posição

O início da época tauromáquica de 2009 está aí e, com ele, além das regulares abomináveis touradas, regressam também as especialmente chocantes “touradas de beneficência” – manobras que a indústria tauromáquica usa para se tentar legitimar moral e socialmente, oferecendo os rendimentos das chamadas “touradas de beneficência” a associações de bombeiros voluntários, a instituições católicas de caridade e a algumas instituições de solidariedade social, instrumentalizando estas instituições, o seu nome e o seu trabalho de reconhecível mérito e associando-se às mesmas com vista a tentar limpar – embora sempre sem sucesso – a imagem de indústria sanguinária que inerente e inevitavelmente detém.

É neste contexto que tem estado a ser anunciada uma “corrida de touros de beneficência” (ver cartaz em http://www.tauromania.pt/calendario_zoom.php?aID=3252), a 28 de Fevereiro, na Moita, com o alegado objectivo de apoiar as instituições “Ajuda de Berço” e Comunidade Vida e Paz. A ANIMAL contactou estas duas instituições assim que viu o primeiro anúncio desta “tourada de beneficência”, tentando sensibilizá-las para o erro extremo em que cairiam, se aceitassem sequer um cêntimo que fosse proveniente da tortura de animais – havendo, felizmente, tantas maneiras positivas e eticamente correctas de angariar dinheiro e apoios para o trabalho de instituições como estas. A Associação “Ajuda de Berço” nunca chegou a responder à ANIMAL e a resposta da Comunidade Vida e Paz, pela mão do seu Presidente, foi absolutamente desconcertante, como de seguida se transcreve:

Venho esclarecer que nada temos a ver com a ideia, iniciativa, organização, promoção, marketing ou publicidade do evento. Também não foi organizado para obter fundos para a CVP [Comunidade Vida e Paz]. Depois de organizado o evento é que fomos contactados para sermos beneficiários da receita. Apenas e só aceitamos ser beneficiários de parte da receita da bilheteira em favor dos destinatários da nossa Instituição.

Com os melhores cumprimentos
Jorge dos Santos
Presidente da Direcção

Ou seja, a Comunidade Vida e Paz não se envolveu nem se envolverá de maneira nenhuma nesta “tortura de beneficência” – a não ser recebendo o dinheiro que for obtido a partir da mesma...

Como nem tudo é mau e, apesar de tudo, há bons exemplos de instituições que não concebem financiar-se com o mal de uns (o sofrimento de touros e cavalos) para o bem de outros (as crianças que protegem), reconhecendo que fazer o bem e ser-se solidário e compassivo deve sempre ser um acto inteiramente digno e consistente que nunca desfavoreça uns para benefício de outros, a posição do prestigiado Refúgio Aboim Ascenção (http://www.refugio.pt/) relativamente a uma proposta semelhante em tudo contrastou – e muitíssimo bem – com a posição da Comunidade Vida e Paz e da “Ajuda de Berço”. Depois de ter sido noticiada também uma “tourada de beneficência” a favor do Refúgio Aboim Ascenção, a ANIMAL contactou, igualmente, esta instituição, tendo recebido a seguinte resposta – excelente, exemplar e inteiramente louvável – do seu Director Executivo, o psicólogo clínico Luís Villas-Boas:

O Refúgio Aboim Ascensão proibiu qualquer corrida ou festival tauromáquico em seu favor. Fomos de facto contactados pela empresa “Afición” para o efeito, porém, informámos por escrito essa empresa de que estava proibida a utilização do nosso nome para tal finalidade. Demos igualmente conhecimento desta proibição à empresa proprietária da praça de touros e à Câmara Municipal da Moita.

Na mesma resposta, o Director-Executivo do Refúgio Aboim Ascensão acrescenta ainda que, se a proibição da associação do nome desta instituição a uma tourada for desrespeitada, esta instituição agirá “judicial e imediatamente”.

- Porque as boas instituições que desenvolvem um bom trabalho e que o fazem da maneira correcta, nomeadamente tomando decisões certas como esta que o Refúgio Aboim Ascensão tomou devem ser o mais apoiadas possível, por favor visite o site desta instituição, em http://www.refugio.pt/, conheça melhor o seu trabalho de prestação de assistência e protecção a crianças em risco, assim como as suas necessidades, e por favor considere enviar algum tipo de apoio para o Refúgio Aboim Ascensão, congratulando também a instituição por recusar envolver-se com touradas.

- Por favor, envie a mensagem abaixo sugerida – ou, se preferir, escreva a sua própria mensagem – à Direcção da Comunidade Vida e Paz e à Direcção da Associação “Ajuda de Berço”, pedindo a estas duas instituições para seguirem o exemplo do Refúgio Aboim Ascensão, recusando qualquer envolvimento, dinheiro ou qualquer outro apoio proveniente do sacrifício de animais. Por favor, envie a sua mensagem para:
ajudadeberco@ajudadeberco.pt; geral@alvalade.cvidaepaz.org; geral@alvalade.cvidaepaz.pt, Com Conhecimento (Cc) a campanhas@animal.org.pt.

Mensagem Sugerida

À Direcção da Comunidade Vida e Paz e à Direcção da Associação “Ajuda de Berço”:

Ex.mos Senhores,

Acabei de saber, através da Associação ANIMAL (e confirmei no anúncio apresentado em
http://www.tauromania.pt/calendario_zoom.php?aID=3252), que, a 28 de Fevereiro, terá lugar na Moita uma “tourada de beneficência” (uma contradição nos termos, pois não pode haver beneficência alguma onde há tortura) a favor da Comunidade Vida e Paz e da Associação “Ajuda de Berço”. Soube também que, enquanto a Associação “Ajuda de Berço” nem sequer se dignou responder à mensagem que a ANIMAL lhe enviou, já o Presidente da Comunidade Vida e Paz respondeu, mas alegando que, pelo facto da instituição a que preside ir apenas receber o dinheiro proveniente da tortura daqueles animais que serão violentados nesta vergonhosa tourada, a Comunidade Vida e Paz não teria qualquer responsabilidade quanto a esta tourada, o que é inacreditável, considerando que aceita, abertamente, receber dinheiro obtido a partir da mesma.

A contrastar com esta situação, uma outra instituição de solidariedade social que presta um notável e extremamente valioso trabalho de assistência e protecção a crianças em risco, o Refúgio Aboim Ascensão, rejeitou categoricamente uma semelhante proposta vinda da indústria tauromáquica, tendo, além do mais, prevenido os promotores tauromáquicos em causa de que, se associassem o nome e a instituição Refúgio Aboim Ascensão a qualquer tourada, seriam alvo de procedimento judicial por parte desta instituição, que, pelas palavras do seu Director-Executivo, Dr. Luís Villas-Boas, na resposta gentil e positiva que dirigiu à ANIMAL quando contactado a este propósito, mostrou, assim, que uma verdadeira instituição de solidariedade não aceita, a fim de favorecer uns (as crianças que bem protege), desfavorecer outros (os touros que seriam violentados numa “tourada de beneficência”).

Julgo ser de salientar que a indústria tauromáquica, numa constante tentativa para se tentar legitimar moral e socialmente – uma vez que enfrenta grande contestação moral e a sua actividade suscita, hoje em dia, grande repulsa ética, social e cívica, em Portugal como em todo o mundo –, procura por todos os meios instrumentalizar instituições de solidariedade social, anunciando “touradas de beneficência”, como aquela a que faço referência, como meio de se apresentar como uma indústria eticamente preocupada, tentando, assim, diluir a oposição ética que levanta pelo facto de torturar e massacrar milhares de animais em praças de touros todos os anos, em várias zonas do país.

E é exactamente isto que os promotores desta corrida de touros estão a tentar fazer, comprometendo a Comunidade Vida e Paz e a Associação “Ajuda de Berço”, que são instituições absolutamente respeitáveis, cujo nome, boa reputação e mérito estão a ficar seriamente comprometidos pelo facto de aceitarem ser beneficiárias de parte dos rendimentos de um espectáculo de violência contra animais – espectáculo este que até já um Tribunal de Lisboa considerou violento, anti-pedagógico e psicologicamente perigoso para crianças e adolescentes.

Posto isto, exorto V. Ex.as a distanciarem-se totalmente desta vergonhosa tourada (ou de qualquer outra), salvando, assim, o nome, a reputação e a dignidade do trabalho das instituições por V. Ex.as dirigidas – que em caso algum deveriam ser postos em causa, menos ainda pela aceitação de apoios manchados de sangue e de sofrimento como aqueles que resultarão desta infame tourada, no caso desta acontecer e de, mais do que isso, vir a reverter-se, de facto, numa fonte de apoios para as instituições que V. Ex.as dirigem.

Pela minha parte, passei a nutrir uma ainda maior admiração pelo Refúgio Aboim Ascensão, cujo trabalho ainda mais quererei apoiar a partir de agora, tendo em consideração a justíssima posição que tomou ao distanciar-se da tortura de animais, e espero vir a poder dizer e sentir o mesmo acerca da Comunidade e Vida e Paz e da Associação “Ajuda de Berço”, no caso de V. Ex.as responderem positivamente ao apelo urgente que ora envio.

Agradecendo antecipadamente a atenção que possa ser dedicada à presente mensagem, e ficando na expectativa de uma resposta, que espero que seja positiva, apresento os meus melhores cumprimentos.

De V. Ex.as,
Cordialmente,

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