quarta-feira, 1 de abril de 2009

Eurodeputados desconsideram o que a opinião pública europeia confirmadamente quer quanto à protecção dos animais usados em experiências

Organizações europeias de protecção dos animais, entre as quais a ANIMAL, exprimem a sua indignação perante o facto da grande oportunidade de actualização legislativa de protecção dos animais usados em laboratórios na UE estar a ser perdida por legisladores comunitários contra o que querem os cidadãos europeus

A ECEAE – European Coalition to End Animal Experiments (Coligação Europeia para a Abolição das Experiências com Animais), uma coligação de 18 organizações de protecção dos animais de toda a Europa que lidera as campanhas europeias pelo fim da experimentação animal neste continente, e da qual a ANIMAL é o membro português, reagiu com extrema indignação depois dos eurodeputados membros do Comité de Agricultura do Parlamento Europeu terem ontem excluído importantes medidas de protecção dos animais usados em laboratórios do conjunto de medidas a integrar a nova directiva que visa actualizar a protecção legislativa dos animais de laboratório na União Europeia, que se encontra a ser preparada.

Os eurodeputados, fortemente pressionados pela multi-milionária indústria de experimentação animal, foram não só contra a opinião pública mas puseram também em causa as propostas originalmente apresentadas pela Comissão Europeia, que tendiam a finalmente estabelecer melhorias significativas, há muito urgentemente necessárias, no contexto da revisão desta velha directiva, que conta já 20 anos de idade sem que alguma vez tenha sido revista, sendo que assume uma extraordinária importância, uma vez que estabelece as normas de protecção de milhões de cães, gatos, primatas, coelhos, ratos e outros animais cruel e desnecessariamente usados todos os anos em experimentação, no espaço comunitário.

As afirmações do deputado Neil Parish, redactor das propostas do Parlamento, segundo o qual esta directiva revista resultará em melhorias para a protecção dos animais e aproximará a UE do objectivo de pôr um fim global à experimentação animal virão apenas enganar o público, levando os cidadãos a crer que este será um momento bom e importante para os animais da Europa e para os milhões de europeus que com eles se preocupam. Na verdade, porém, o contrário acontecerá, uma vez que o resultado dos votos de ontem fará com que:

- continue a ser possível utilizar primatas capturados no meio selvagem;
- seja enfraquecida a proposta de proibição da utilização de grandes símios em experimentação;
- a inflicção de sofrimento agudo e prolongado aos animais continue a ser genericamente permitida;
- o mesmo animal possa ser utilizado vez após vez em experiências diferentes;
- primatas, cães e gatos possam continuar a ser usados em experimentação, mesmo que seja com fins absolutamente triviais;
- não seja necessária aprovação oficial das experiências, e do sofrimento que estas causam, na maior parte dos casos;
- um sistema altamente secreto de actividade de experimentação animal seja possível, com muito pouca informação acerca desta poder chegar a ser pública.

De acordo com uma sondagem feita entre o fim de Fevereiro e o princípio de Março do ano corrente pela empresa de sondagens YouGov, realizada no Reino Unido, em França, na Alemanha, em Itália, na Suécia e na República Checa, a opinião pública europeia discorda radicalmente da maneira como os eurodeputados votaram ontem. Os resultados desta sondagem revelam nomeadamente que:

- 81% das pessoas inquiridas concordam ou concordam fortemente que a nova lei deve proibir todas as experiências que causem dor ou sofrimento a primatas

- 79% das pessoas inquiridas concordam ou concordam fortemente que a nova lei deve proibir todas as experiências com animais que não estejam relacionadas com a investigação de condições clínicas sérias que afectem a vida humana

- 84% das pessoas inquiridas concordam ou concordam fortemente que a nova lei deve proibir todas as experiências que causem dor ou sofrimento severos a qualquer animal

- 80% das pessoas inquiridas concordam ou concordam fortemente que toda a informação acerca das experiências com animais deve estar publicamente acessível, excepto a informação que é confidencial e a informação que permita identificar os investigadores e onde estes trabalham

- 73% das pessoas inquiridas discordam ou discordam fortemente que a nova lei deva permitir experiências que causem dor ou sofrimento a gatos

- 77% das pessoas inquiridas discordam ou discordam fortemente que a nova lei deva permitir experiências que causem dor ou sofrimento a cães

Comentando esta grave, lamentável e anti-democrática decisão política, Miguel Moutinho, Presidente da ANIMAL, afirmou que “A oportunidade para conceder maior protecção aos animais torturados e sacrificados em laboratórios na União Europeia ficou perdida. É escandaloso o modo como até a proibição do uso de primatas capturados no meio selvagem, uma actividade que é universalmente reconhecida como errada em todos os sentidos possíveis, foi enfraquecida. Os eurodeputados membros do Comité de Agricultura do Parlamento Europeu decidiram contra o que a opinião pública europeia quer, contra os princípios da ética que postulam o fim da experimentação animal e, além disso, não fizeram caso algum das mais que muitas e mais que evidentes provas de que a experimentação animal só constitui um negócio imoral e de implicações perigosas, em momento algum constituindo uma prática científica legítima ou útil, levando sempre antes ao atraso da ciência e da investigação científica. Com esta medida, os decisores políticos responsáveis por esta votação deram luz verde aos elementos dessa gigantesca indústria multi-milionária que é a indústria da vivissecção para continuarem a fazer o que quiserem à porta fechada, cometendo as maiores, mais cientificamente absurdas e inúteis, e mais eticamente aberrantes barbaridades dentro dos laboratórios, onde ninguém mais os poderá ver a torturar animais, e sem que as suas práticas cheguem a ser verdadeiramente escrutinadas pelo público e por cientistas independentes que não lucram com o negócio da experimentação animal. Este é um momento negro para os animais da Europa, mas também para a democracia na União Europeia”.

Nota: Todos os valores apresentados, a não ser quando citados de outro modo, são da empresa de pesquisas de opinião YouGov Plc. A amostra total foi de 7139 adultos. O inquérito foi realizado entre 24 de Fevereiro e 4 de Março de 2009. A sondagem foi realizada online. Os números foram avaliados de modo a serem representativos das dimensões populacionais dos países inquiridos. A sondagem foi realizada na República Checa, França, Alemanha, Itália, Suécia e no Reino Unido.