domingo, 12 de abril de 2009

Lutas de galos em garagens rendem cinco mil euros

(Por CPAULO SILVA REIS. In “Diário de Notícias”, 12 de Abril de 2009)

Tratam-nos como animais de estimação, mas gostam de os ver à luta. Os amantes das "chegas de galos" dos concelhos de Chaves e Montalegre não entendem porque é que a modalidade é ilegal e vêem-se obrigados a atravessar a fronteira, onde a prática é vista com bons olhos e faz sucesso. Na Galiza, as lutas fazem sucesso - até porque em Espanha a modalidade é legal. Do lado de cá as chegas de galos são ilegais mas não deixam de ser praticadas em garagens. Em apostas uma única chega pode render cinco mil euros.

Normalmente acompanhadas com uma "petiscada" e uma reunião de amigos, as chegas são frequentes na região do Alto Tâmega e quanto mais perto da fronteira, mais vulgares se tornam. Não cobram qualquer bilhete nem fazem negócio com as lutas, apenas se juntam para se divertir, disse Carlos (nome fictício de um dos muitos flavienses que se juntam para observarem a luta dos galos), que fez questão de explicar: "em algumas regiões, até aqui bem perto, sabe-se que se fazem as chegas de bois e, nós, numa brincadeira de amigos, não podemos chegar os galos," salientou. "É lamentável que aqui seja proibido e a dez quilómetros já o possamos fazer".

Para Carlos os galos são uma paixão e garante que não gosta de os ver sofrer. "Gostamos de observar a luta, o aproximar dos galos, o seu envolvimento, mas eu não gosto de os ver sofrer." Já teve mais de uma centena de galos e, para além de os alimentar convenientemente, com mistura de aves, quer que estejam saudáveis e até "remédio das lombrigas que se dão às crianças, e outros para respirar melhor", dá aos seus "campeões".

No entanto, na cidade de Chaves, apesar desta ser uma prática ilegal, existe quem tenha dado mais de 1500 euros, por um único galo vindo do México. Na cidade flaviense, de forma clandestina as lutas continuam a realizar-se e mesmo sem serem publicitadas enchem-se sempre de assistentes.

Se existe um elevado número de pessoas que o faz apenas para se divertirem, também existem aqueles que ganham muito dinheiro com as chegas e em garagens, tanto de Chaves como da vizinha Espanha, uma única chega de galos pode render mais de cinco mil euros em apostas.

Nas localidades raianas realizam-se entre quatro a seis chegas de galos por mês. Os espanhóis não têm qualquer problema em confirmar a sua existência, garantindo mesmo que os melhores galos "são os que vêm de Chaves", mas quando questionados sobre as lutas de morte, apesar de explicarem como funcionam, dizem não saber onde se fazem.

"As lutas de morte não são bem como as pessoas dizem", disse outro dos apaixonados da luta de galos que vive do outro lado da fronteira, Manuel (nome fictício). "Os melhores galos são sempre os portugueses, mas isso não implica que sejam os mais fortes. No meio de tantas apostas temos os que quando acreditam fielmente no seu galo, e como estamos sempre entre amigos que gostam de comer, apostam o próprio galo, ou seja quem perder tem de morrer e ir para a panela", confessou Manuel.

Em bairros ditos perigosos as apostas de galos chegam mesmo a ir aos extremos e a crueldade é de tal ordem que os animais chegam a lutar até à morte de um deles. "Nunca assistimos", diziam os presentes na chega de galos que o DN presenciou, mas muitos garantiram que "até bisturis chegam a prender nas patas dos animais".

Os apaixonados das chegas de galos que têm de atravessar a fronteira para não serem autuados, querem que, à semelhança do que acontece em Espanha as chegas sejam autorizadas. E lembram a tradição de touros de morte em Barrancos, que foi muito contestada, mas a lei permite.

A morte dos animais, para a grande maioria dos que criam e chegam galos deve continuar a ser proibida, mas "as Chegas de Galos em Trás-os-Montes são antigas e até no livro do Padre Fontes se encontram escritos anteriores a 1930" (ver caixa ao lado), disse o dono do galo vencedor na luta a que o DN assistiu.