domingo, 20 de julho de 2008

Para a União das Misericórdias Portuguesas, só o dinheiro importa, mesmo que sujo de sangue de animais torturados em touradas

Para a União das Misericórdias Portuguesas, só o dinheiro importa, mesmo que sujo de sangue de animais torturados em touradas Por favor, responda à União das Misericórdias Portuguesas

Desconcertante. É, talvez, a primeira palavra que ocorreu às centenas de pessoas que receberam a resposta da União das Misericórdias Portuguesas às mensagens de protesto enviadas a esta instituição expressando indignação relativamente ao facto de, no passado dia 17 de Julho, a Praça de Touros do Campo Pequeno ter sido palco da “Tourada a favor da União das Misericórdias Portuguesas”. Foi esta a resposta que este organismo – que congrega todas as santas casas da misericórdia e casas pias do país – enviou, no próprio dia 17 de Julho, ou seja, no dia em que a tourada aconteceu:

Exma. Senhora

Com os melhores cumprimentos e bons votos, agradecendo o seu contacto informamos que, apesar de se tratar de uma tradicional e mais que secular forma de angariar recursos para protecção aos mais necessitados das várias comunidades (que, para o efeito, muitas vezes construíram por solidariedade pública as suas próprias praças), estamos absolutamente disponíveis para prescindir deles se V. Excia, por si mesmo ou por outros que consiga mobilizar, nos ajudar com o seu solidário contributo.

Para esse generoso fim e para facilitar a participação de V. Excia abrimos a conta 185100004794, no Montepio Geral, com o NIB - 003601859910000479441 cujo montante será rigorosamente aplicado na finalidade social em causa.

Muito gratos e reconhecidos, subscrevemo-nos em reiterados cumprimentos

José Nunes
União das Misericórdias Portuguesas


Por favor, envie a resposta abaixo sugerida – ou escreva a sua resposta, se preferir – e envie-a à União das Misericórdias Portuguesas, assinalando o seu protesto não só contra a “tourada de beneficência” desta instituição, mas também contra a resposta vergonhosa que esta instituição dirigiu a quem a contactou para expressar indignação pelo facto de aceitar dinheiro a partir da violentação de animais. Por favor, envie a sua mensagem de protesto para: geral@ump.pt; jnunes@ump.pt; aferreira@ump.pt; vmelicias@ump.pt; Com Conhecimento (Cc) a campanhas@animal.org.pt.

Resposta Sugerida

Exm.º Senhor Presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas, Dr. Manuel Augusto Lopes de Lemos
Exm.º Senhor Presidente do Conselho Nacional da União das Misericórdias Portuguesas, Comendador Manuel Carlos Cálem Carneiro
Exm.º Senhor Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da União das Misericórdias Portuguesas, Padre Vítor Melícias

Ex.mos Senhores,

Depois de ter lido a resposta da União das Misericórdias Portuguesas às mensagens de protesto que a V. instituição recebeu a propósito da “Tourada a Favor da União das Misericórdias Portuguesas” que decorreu no passado dia 17 de Julho na Praça de Touros do Campo Pequeno, perdi qualquer respeito que até aqui pudesse ter pela V. instituição.

Numa resposta “envenenada” e de muito mau gosto – na qual V. Ex.as de forma pretensamente hábil incluem uma insultuosa justificação da sempre inaceitável tortura de animais enquanto “tradicional e mais que secular forma de angariar recursos para protecção aos mais necessitados”, deixando claro que a União das Misericórdias Portuguesas não só aceita e mantém este método para angariar dinheiro, como também o justifica e defende –, V. Ex.as têm ainda o desplante de afirmar, obviamente de forma não sincera (na medida em que o fizeram a 17 de Julho, no mesmo dia em que fizeram a dita tourada sem que a mesma tenha sido suspendida pela V. instituição), estarem “absolutamente disponíveis para prescindir deles [das touradas] se V. Excia, por si mesmo ou por outros que consiga mobilizar, nos ajudar com o seu solidário contributo”, indo ao cúmulo de apresentarem uma conta bancária para esses “contributos” pedidos na V. mensagem, apesar de não darem quaisquer provas de boa fé e de correspondência ao pedido que foi endereçado à V. instituição – na medida em que não suspenderam sequer, nem sequer a isso fizeram menção, a (mal)dita tourada.

Segue-se, de resto e principalmente, da mensagem de V. Ex.as que, para a União das Misericórdias Portuguesas, o que importa é o dinheiro – não como ele é conseguido. Tanto pode ser a molestar e torturar animais – e porventura outros indivíduos, desde que o acto seja “tradicional e mais que secular”, resulta como implicação do que V. Ex.as responderam – como de outra maneira, desde que se consiga. E, devo dizer a V. Ex.as, esse princípio de que os fins justifica os meios, quaisquer que eles sejam, é exactamente o perigoso princípio que faz com que muitos sejam oprimidos e/ou desprezados e se vejam na condição de necessitados, num mundo tão injusto em que até a União das Misericórdias Portuguesas funcionará, afinal, segundo essa máxima do “vale-tudo” em nome da beneficência, acabando por fazer tanto mal em nome do bem que diz prosseguir quanto mal diz pretender evitar ou aliviar.

Lamento muito, mas o nome da V. instituição, associado ao conceito que V. Ex.as sem qualquer pudor acabaram de associar à mesma, passou a ser uma ironia. Fica claro que a União das Misericórdias Portuguesas não é verdadeiramente misericordiosa, cultiva a opressão e a tortura de seres indefesos em nome do dinheiro que dela pode retirar e ainda justifica essas práticas com base na sua antiguidade – o que, de resto, é tão estranho quanto isto: também a pobreza é um fenómeno antigo, certamente “mais que secular”, e nem por isso deve ser admitido, aceite e respeitado. Irão V. Ex.as agora passar a cultivar a pobreza, por respeito à sua antiguidade, uma vez compreendendo a implicação da posição nada digna que V. Ex.as assumem neste episódio, ou irá a União das Misericórdias Portuguesas fazer um exame das suas posições, do que defende e deve defender e redimir-se de forma total e satisfatória do mal grave, ofensivo e profundamente imoral que está a cometer?

Deixando a V. Ex.as a minha garantia de que comigo e com quem consiga informar e sensibilizar acerca deste episódio não contam, uma vez que tanto eu como tantas outras pessoas que também são verdadeiramente misericordiosas só queremos apoiar o trabalho de instituições que não põem a ética de lado quando isso é conveniente,

Apresento os melhores cumprimentos,

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