sexta-feira, 8 de maio de 2009

Comunicado da ANIMAL acerca da TVI e dos circos com animais

Comunicado da ANIMAL acerca da ostensiva parcialidade e falta de seriedade jornalística com que a TVI tratou a questão do uso de animais em circos no “Jornal Nacional” de ontem

A ANIMAL vem tornar pública a sua mais firme contestação ao escândalo protagonizado ontem à noite pela TVI, no “Jornal Nacional”, aquando da exibição de uma peça sobre a suposta maneira como os animais de circo são mantidos e tratados no circo e aquando do momento de comentário que se seguiu a esta peça, pelas razões que passa a apresentar:

1. Esta peça foi, em primeiro lugar, completamente parcial e desprovida de qualquer verdade validada. Numa visita previamente combinada ao circo, o jornalista autor da peça limitou-se a apresentar a história de acordo com a versão do circo, sugerindo sempre que os animais são bem tratados por aquele circo – e, segundo a peça, consequentemente por todos os outros circos, infere-se – porque os animais “não estão ao sol, têm água e comida”. Ora, como é evidente, qualquer animal precisa de muito mais do que sombra, água e comida para se sentir bem e para se poder dizer que é bem tratado. Além disso, como é também evidente, nunca um trabalhador do circo em causa (Circo Chen), ou de qualquer outro circo, iria usar de violência contra um animal diante de jornalistas e de uma câmara de filmar. No entanto, quando filmadas secretamente, as sessões de treino de animais de circo, a condução destes e os próprios espectáculos, são ricos em episódios de violência contra os animais, perpetrados – incluindo de forma admitida, nomeadamente por Victor Hugo Cardinali em declarações ao Rádio Clube Português – por directores de circos diversos e por outros funcionários dos mesmos. Acresce que há inúmeras evidências de manutenção profundamente inadequada de animais em circos, sendo um fenómeno omnipresente as evidências de distúrbios comportamentais severos nestes animais – incluindo do Circo Chen, visitado pelo dito jornalista da TVI, que não cuidou sequer de se informar melhor, de ouvir a parte contrária ou de consultar um especialista independente em comportamento e bem-estar animal que pudesse apresentar uma visão *técnica* e *cientificamente informada*, *factual e objectiva*, acerca de quão severamente grave é para o bem-estar dos animais estes serem mantidos nos circos. Tratou-se, pois, de uma peça que claramente quis favorecer uma visão falsa da vida dos animais nos circos – visão essa que, para quem ainda tenha dúvidas, fica imediatamente denunciada como falsa quando se vêem as imagens da investigação da ANIMAL e da Animal Defenders International à realidade dos circos com animais em Portugal – vídeo integralmente disponível em http://tvanimal.org/index.php?option=com_content&task=view&id=22&Itemid=43.

2. Seguiu-se à exibição daquela peça, que serviu mais para promover o circo com animais e para apresentar uma visão não realista desta actividade do que para oferecer uma visão imparcial da mesma, um momento de comentário protagonizado por Miguel Sousa Tavares, que, sendo um confesso agressor de animais (uma vez que é caçador e apreciador de touradas), só poderia ter produzido os comentários ignorantes, preconceituosos, desinformados e ostensivamente absurdos que produziu, gozando do privilégio de não ter quem, naquele momento, facilmente expusesse as falácias a que recorreu para fazer vingar a sua visão arcaica do que são os animais e de como os humanos se devem relacionar com eles.

3. Como se todos factos não fossem suficientemente graves, o pivot que apresentou o “Jornal Nacional” foi ao cúmulo de responder a Miguel Sousa Tavares com risos de concordância com aqueles comentários ignorantes, deixando clara também a parcialidade e a falta de seriedade e objectividade com que tratou aquele assunto, em momento algum colocando qualquer questão, em nome da imparcialidade, ao dito comentador que pudesse, pelo menos, representar minimamente a parte contrária – que defende o fim do uso de animais em circos – que ali não estava representada.

4. Se a TVI tivesse, neste capítulo, feito um trabalho de jornalismo sério, teria, no mínimo, dado igual oportunidade, na prestação de declarações, exibição de imagens ou produção de opinião, aos médicos veterinários, biólogos e etólogos que, na qualidade de cientistas, sabem e afirmam que não há como manter e usar animais em circos respeitando o seu bem-estar. A TVI nem precisaria de ouvir organizações de defesa dos animais para poder apresentar esta visão – bastaria que falasse com cientistas independentes que estivessem tecnicamente qualificados para fazer comentários acerca desta questão. Em vez disso, limitou-se a ouvir e promover o que diz quem lucra com a exploração, subjugação e violentação dos animais de circo, assim como se limitou a ouvir acerca do uso de animais em circos Miguel Sousa Tavares, que é, porventura, o mais arrogantemente ignorante, preconceituoso e zoófobo comentador de assuntos relativos a animais em Portugal – e, neste episódio, a TVI não só ouviu este comentador: através do pivot do “Jornal Nacional”, concordou de forma vergonhosamente divertida e em jeito de paródia com os comentários do mesmo, o que obviamente nunca poderia acontecer.

Não constitui novidade para a ANIMAL que a TVI tem, na sua agenda, quer nas suas escolhas de programação, quer no modo como habitualmente apresenta notícias que de algum modo digam respeito a animais, uma muito evidente intenção de promover uma visão absolutamente medieval de como os animais são e de como os humanos se devem relacionar com eles – visão essa que está absolutamente em linha com a visão do seu comentador Miguel Sousa Tavares. Mas o episódio da passada edição do “Jornal Nacional” é demasiadamente flagrante e grave para que a ANIMAL não o assinale e condene.

E, embora lamentando-o pelos jornalistas que trabalham para a TVI e que, apesar disso, não se revêem nesta orientação medieval desta estação televisiva, é em face do exposto que a ANIMAL anuncia que não voltará a produzir quaisquer declarações para jornalistas ou programas da TVI, passando a tratar esta estação de televisão como um órgão que, no que aos direitos dos animais diz respeito, é apenas um veículo de desinformação e de promoção de um Portugal onde estes devem poder continuar a ser vítimas de abuso e desrespeito contínuos.