(Por José Bento Amaro. In “Público”, 8 de Maio de 2009)
Apoiantes da festa e os antitouradas, convictos das suas razões, manifestaram--se em simultâneo, a 50 metros de distância, sem ofensas nem confrontos
Uns vestidos de branco, outros de preto. Uns atentos aos discursos, outros empunhando cartazes e cobrindo a cabeça com sacos de papel. Separados apenas por 50 metros, sete milhares de apoiantes (a lotação da praça, que estava esgotada) e 200 contestatários das corridas de touros estiveram ontem ao princípio da noite concentrados em frente à Praça do Campo Pequeno, em Lisboa. Protestos sem violência. Os defensores das corridas a lembrarem os benefícios sociais que acarretam. Os contestários a vincarem palavras como "tortura" e "sofrimento".
"Tenho uma história, já lá vão muitos anos. Convenci, em Évora, um jovem estudante a ir para dentro do redondel. Ele foi e, passados uns minutos, já estava sem dentes. Muitos anos depois, numa outra cidade, um indivíduo veio ter comigo, perguntou-me se não me lembrava dele. Então ele esticou a mão e disse: 'Sou o Dantas e quero agradecer-lhe, pois por causa de si é que hoje sou aficionado'. Era o mesmo jovem que muitos anos antes eu incitara a saltar para a arena e que acabou por ficar sem dentes", contou ontem, camisola branca ao ombro, o veterinário e crítico de touros Domingos da Costa Xavier.
No outro lado da barricada, do lado dos camisolas pretas, Rita Silva, vice-presidente da Associação Animal, também tinha uma história para contar. "Agora as coisas são pacíficas, mas, há alguns anos, em Torres Vedras, o cavaleiro Luís Rouxinol até veio com o cavalo para cima dos que estavam a manifestar-se contra as touradas".
Ontem não houve cavalos a investir contra as pessoas. O aparato policial também não convidava ninguém a excessos. Ana Mateus, manifestante antitouradas, lembrou que os aficionados nem são dos que mais se exaltam na defesa das suas ideias.
"Acho que os do circo são bem piores", disse.
Dionísio Simão Mendes é presidente da Câmara de Coruche e não consegue imaginar o seu concelho sem festas de touros. "Todos têm direito de contestar, tal como eu também tenho direito de fazer o que gosto desde que não me meta com ninguém", diz. Sobre a decisão do colega autarca, presidente da Câmara de Viana do Castelo, que pura e simplesmente proibiu os espectáculos taurinos na sua área de jurisdição, resumiu-a numa palavra: "Abusiva". "Deveria ter feito um referendo sobre o assunto", acrescentou.
A mesma opinião manifestou Afonso Gonçalves Ferreira, lembrando ainda que proibir uma tradição como é a festa brava "é o mesmo que proibir o fandango ou o vira do Minho".
A vice-presidente da Animal tem outra opinião e garante que a atitude de Defensor de Moura revelou que "está adiantado no tempo". "Agora esperamos um efeito dominó. Depois de Viana do Castelo, Braga, Cascais e Sintra, outros se deverão seguir. As pessoas querem um país civilizado e moderno, e por isso querem a abolição das touradas."
Também do lado dos aficionados, se falou de civilização. Maurício do Vale lembrou os milhares de animais domésticos que enfrentam a morte por falta de alimentos e lembrou que as pessoas dos touros já se disponibilizaram para fazerem uma corridas cujas receitas revertam a favor dos zoolófilos.
Com 21 anos, e a poucos meses de tomar alternativa, o cavaleiro praticante Francisco Palha, primo da família Telles, também comentou a dupla manifestação: "Podem acontecer em simultâneo, desde que feitas com civismo. Devem servir para transmitir ideias e não para exigir o fim de uns e de outros".
Apoiantes da festa e os antitouradas, convictos das suas razões, manifestaram--se em simultâneo, a 50 metros de distância, sem ofensas nem confrontos
Uns vestidos de branco, outros de preto. Uns atentos aos discursos, outros empunhando cartazes e cobrindo a cabeça com sacos de papel. Separados apenas por 50 metros, sete milhares de apoiantes (a lotação da praça, que estava esgotada) e 200 contestatários das corridas de touros estiveram ontem ao princípio da noite concentrados em frente à Praça do Campo Pequeno, em Lisboa. Protestos sem violência. Os defensores das corridas a lembrarem os benefícios sociais que acarretam. Os contestários a vincarem palavras como "tortura" e "sofrimento".
"Tenho uma história, já lá vão muitos anos. Convenci, em Évora, um jovem estudante a ir para dentro do redondel. Ele foi e, passados uns minutos, já estava sem dentes. Muitos anos depois, numa outra cidade, um indivíduo veio ter comigo, perguntou-me se não me lembrava dele. Então ele esticou a mão e disse: 'Sou o Dantas e quero agradecer-lhe, pois por causa de si é que hoje sou aficionado'. Era o mesmo jovem que muitos anos antes eu incitara a saltar para a arena e que acabou por ficar sem dentes", contou ontem, camisola branca ao ombro, o veterinário e crítico de touros Domingos da Costa Xavier.
No outro lado da barricada, do lado dos camisolas pretas, Rita Silva, vice-presidente da Associação Animal, também tinha uma história para contar. "Agora as coisas são pacíficas, mas, há alguns anos, em Torres Vedras, o cavaleiro Luís Rouxinol até veio com o cavalo para cima dos que estavam a manifestar-se contra as touradas".
Ontem não houve cavalos a investir contra as pessoas. O aparato policial também não convidava ninguém a excessos. Ana Mateus, manifestante antitouradas, lembrou que os aficionados nem são dos que mais se exaltam na defesa das suas ideias.
"Acho que os do circo são bem piores", disse.
Dionísio Simão Mendes é presidente da Câmara de Coruche e não consegue imaginar o seu concelho sem festas de touros. "Todos têm direito de contestar, tal como eu também tenho direito de fazer o que gosto desde que não me meta com ninguém", diz. Sobre a decisão do colega autarca, presidente da Câmara de Viana do Castelo, que pura e simplesmente proibiu os espectáculos taurinos na sua área de jurisdição, resumiu-a numa palavra: "Abusiva". "Deveria ter feito um referendo sobre o assunto", acrescentou.
A mesma opinião manifestou Afonso Gonçalves Ferreira, lembrando ainda que proibir uma tradição como é a festa brava "é o mesmo que proibir o fandango ou o vira do Minho".
A vice-presidente da Animal tem outra opinião e garante que a atitude de Defensor de Moura revelou que "está adiantado no tempo". "Agora esperamos um efeito dominó. Depois de Viana do Castelo, Braga, Cascais e Sintra, outros se deverão seguir. As pessoas querem um país civilizado e moderno, e por isso querem a abolição das touradas."
Também do lado dos aficionados, se falou de civilização. Maurício do Vale lembrou os milhares de animais domésticos que enfrentam a morte por falta de alimentos e lembrou que as pessoas dos touros já se disponibilizaram para fazerem uma corridas cujas receitas revertam a favor dos zoolófilos.
Com 21 anos, e a poucos meses de tomar alternativa, o cavaleiro praticante Francisco Palha, primo da família Telles, também comentou a dupla manifestação: "Podem acontecer em simultâneo, desde que feitas com civismo. Devem servir para transmitir ideias e não para exigir o fim de uns e de outros".