(Por José Bento Amaro e Maria Lopes. In “Público”, 8 de Maio de 2009)
A época taurina abriu com polémica. A assistência às touradas cresce, mas os movimentos de protecção dos animais estão mais fortes que nunca
As posições extremam-se. De um lado estão os aficionados, que acenam com a estatística, para defenderem a festa dos touros. Na outra ponta da corda encontram-se as associações de defesa dos animais, que este ano ganharam um novo alento, vendo alguns municípios a aderirem à causa antitourada. Ontem, à porta do Campo Pequeno as duas facções voltaram a pesar argumentos.
"Sempre existiram pessoas contra as touradas, só que agora os protestos parecem mais agressivos", lembra João Santos Andrade, presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Touros de Lide. "O ano de 2009 está a ser absolutamente histórico para o progresso político da protecção dos animais em Portugal", argumenta o presidente da associação Animal, Miguel Moutinho.
As duas facções parecem estar a ganhar adeptos. Os amantes da tauromaquia lembram que, depois de três anos de quebra, as assistências voltaram a subir (em 2008 foram quase 700 mil os bilhetes vendidos). Paulo Caetano, antigo cavaleiro tauromáquico, fala da festa brava como o segundo espectáculo que mais entradas vende, depois do futebol. Defensor de Moura, presidente da Câmara de Viana do Castelo, cidade que este ano se tornou pioneira ao proibir os espectáculos taurinos, preconiza que "inevitavelmente [a tauromaquia] vai acabar".
Os defensores dos animais citam, com orgulho, os quatro municípios que, de algum modo, já manifestaram a vontade de contrariar as touradas. Após Viana do Castelo seguiram-se Braga, Cascais e Sintra. Defensor de Moura lembra que a sua decisão recebeu "muitas e muitas mensagens de apoio de todo o país e até do estrangeiro".
A força da TV
A tomada de posição das autarquias não amedronta os aficionados. Paulo Caetano lembra que "não é às câmaras municipais que compete proibir ou autorizar as corridas de touros, desde que estas não se realizem nas suas instalações". De facto, nenhum município pode contrariar as determinações da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC), que controla e licencia este tipo de espectáculos, nem tão-pouco nenhuma câmara tem competência para proibir que um seu municípe autorize a instalação de uma praça desmontável nos seus terrenos.
Nos dois últimos anos as televisões fizeram 22 transmissões de corridas de touros, as quais só não foram mais numerosas por ter havido juízes que aceitaram providências cautelares a pedir o cancelamento. Agora, transmissões só depois das 22h30 e com bolinha vermelha. Esta foi a decisão, há um ano, do Tribunal Cível de Lisboa, que limitou a emissão deste tipo de espectáculo na RTP, depois de a Animal ter interposto uma providência cautelar contra uma transmissão em directo. A sentença afirmava tratar-se "de um programa susceptível de influir de modo negativo na personalidade das crianças e adolescentes". A juíza considerou como provado que as crianças que assistam a touradas "sem qualquer restrição" podem vir a aceitar a violência sobre animais como algo natural.
Paulo Caetano diz que a bandeira do sofrimento dos animais não convence. "É uma bandeira agitada pela Animal. Nunca os vi, por exemplo, manifestarem-se contra os pescadores, nem os vi fazerem campanhas contra os restaurantes, que servem carne e peixe."
"A força da tauromaquia não está nem na tourada nem na tradição. Tem uma cultura que é um referencial de identidade, que faz com que as pessoas se revejam nos seus valores humanistas", diz o sociólogo Luís Capucha, do ISCTE. Ainda que a tourada seja um fenómeno de massas, Luís Capucha diz que não é possível traçar um perfil dos amantes. Há antes um "mosaico cultural", diz o sociólogo.
Garantindo compreender que haja quem não goste de tourada, afirma no entanto não poder tolerar as "tendências e preconceitos de carácter totalitário" que tendem a proibi-la porque isso é um "atentado ao direito à identidade e à igualdade de direitos".
A época taurina abriu com polémica. A assistência às touradas cresce, mas os movimentos de protecção dos animais estão mais fortes que nunca
As posições extremam-se. De um lado estão os aficionados, que acenam com a estatística, para defenderem a festa dos touros. Na outra ponta da corda encontram-se as associações de defesa dos animais, que este ano ganharam um novo alento, vendo alguns municípios a aderirem à causa antitourada. Ontem, à porta do Campo Pequeno as duas facções voltaram a pesar argumentos.
"Sempre existiram pessoas contra as touradas, só que agora os protestos parecem mais agressivos", lembra João Santos Andrade, presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Touros de Lide. "O ano de 2009 está a ser absolutamente histórico para o progresso político da protecção dos animais em Portugal", argumenta o presidente da associação Animal, Miguel Moutinho.
As duas facções parecem estar a ganhar adeptos. Os amantes da tauromaquia lembram que, depois de três anos de quebra, as assistências voltaram a subir (em 2008 foram quase 700 mil os bilhetes vendidos). Paulo Caetano, antigo cavaleiro tauromáquico, fala da festa brava como o segundo espectáculo que mais entradas vende, depois do futebol. Defensor de Moura, presidente da Câmara de Viana do Castelo, cidade que este ano se tornou pioneira ao proibir os espectáculos taurinos, preconiza que "inevitavelmente [a tauromaquia] vai acabar".
Os defensores dos animais citam, com orgulho, os quatro municípios que, de algum modo, já manifestaram a vontade de contrariar as touradas. Após Viana do Castelo seguiram-se Braga, Cascais e Sintra. Defensor de Moura lembra que a sua decisão recebeu "muitas e muitas mensagens de apoio de todo o país e até do estrangeiro".
A força da TV
A tomada de posição das autarquias não amedronta os aficionados. Paulo Caetano lembra que "não é às câmaras municipais que compete proibir ou autorizar as corridas de touros, desde que estas não se realizem nas suas instalações". De facto, nenhum município pode contrariar as determinações da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC), que controla e licencia este tipo de espectáculos, nem tão-pouco nenhuma câmara tem competência para proibir que um seu municípe autorize a instalação de uma praça desmontável nos seus terrenos.
Nos dois últimos anos as televisões fizeram 22 transmissões de corridas de touros, as quais só não foram mais numerosas por ter havido juízes que aceitaram providências cautelares a pedir o cancelamento. Agora, transmissões só depois das 22h30 e com bolinha vermelha. Esta foi a decisão, há um ano, do Tribunal Cível de Lisboa, que limitou a emissão deste tipo de espectáculo na RTP, depois de a Animal ter interposto uma providência cautelar contra uma transmissão em directo. A sentença afirmava tratar-se "de um programa susceptível de influir de modo negativo na personalidade das crianças e adolescentes". A juíza considerou como provado que as crianças que assistam a touradas "sem qualquer restrição" podem vir a aceitar a violência sobre animais como algo natural.
Paulo Caetano diz que a bandeira do sofrimento dos animais não convence. "É uma bandeira agitada pela Animal. Nunca os vi, por exemplo, manifestarem-se contra os pescadores, nem os vi fazerem campanhas contra os restaurantes, que servem carne e peixe."
"A força da tauromaquia não está nem na tourada nem na tradição. Tem uma cultura que é um referencial de identidade, que faz com que as pessoas se revejam nos seus valores humanistas", diz o sociólogo Luís Capucha, do ISCTE. Ainda que a tourada seja um fenómeno de massas, Luís Capucha diz que não é possível traçar um perfil dos amantes. Há antes um "mosaico cultural", diz o sociólogo.
Garantindo compreender que haja quem não goste de tourada, afirma no entanto não poder tolerar as "tendências e preconceitos de carácter totalitário" que tendem a proibi-la porque isso é um "atentado ao direito à identidade e à igualdade de direitos".