domingo, 17 de maio de 2009

Touradas: Sim ou Não?

(Por Miguel Moutinho, Presidente da ANIMAL, miguel.moutinho@animal.org.pt. In “Notícias Magazine”, 17 de Maio de 2009)

Apesar dos portugueses se preocuparem cada vez mais com os animais e quererem que eles sejam mais protegidos, desde logo pelo Estado, era, até 2009, muito raro haver decisores políticos a integrar medidas de protecção dos animais nas suas decisões. No entanto, desde o início do ano, quatro municípios – Viana do Castelo, Braga, Cascais e Sintra – anunciaram não voltar a autorizar touradas nos seus concelhos. Cascais e Sintra anunciaram que também não autorizariam circos com animais e rodeos. O autarca de Viana do Castelo declarou esta a primeira «cidade anti-touradas» de Portugal (em Espanha há mais de 60) e decidiu comprar a praça de touros local para a transformar num centro de ciência viva onde mais nenhum animal será torturado. Face a isto, os defensores das touradas acusaram estes autarcas de falta de democraticidade e voltaram a afirmar que quem não gosta de touradas deve simplesmente não as ver. Que proibir as touradas é uma decisão ditatorial que atenta contra a liberdade dos apreciadores de touradas.

Ora, não só estes autarcas tomaram estas medidas de forma democrática e apoiada pelo que a maioria dos seus munícipes pensa acerca desta questão (as sondagens são muito claras acerca disso), como também foram amplamente louvados por milhares de pessoas.

Há um outro ponto fundamental a estabelecer em defesa destas felizes decisões políticas. A partir do momento em que qualquer acto envolve a tortura de indivíduos (no caso, os touros), não é moralmente aceitável que as sociedades olhem para o lado, fingindo que aqueles actos de tortura não existem e deixando os touros serem torturados apenas para satisfazer o gosto dos que, convenientemente, querem que todos os outros voltem as costas àquelas vítimas.

Como disse o pensador anglo-irlandês Edmund Burke, “tudo o que é preciso para que o mal triunfe é que as pessoas de bem nada façam”. Felizmente, há cada vez mais pessoas de bem que não só ficam chocadas com a violência e a condenam, como se tornam também activas falando e agindo contra ela, para lhe pôr fim. Estas pessoas sabem perfeitamente que a tortura nunca pode ser aceite – seja ela perpetrada por uma maioria ou por uma minoria. Sabem que faz parte da democracia defender as liberdades de todos, acabar com a tortura e promover o progresso moral das sociedades. E, felizmente, os decisores políticos portugueses estão a começar a tomar medidas para que os males que são injustamente cometidos contra os animais acabem – em vez de triunfarem.