domingo, 14 de setembro de 2008

As Bravas e os Bravos “Gatos Pingados”

Este ano, durante a presente época tauromáquica, a indústria tauromáquica portuguesa conheceu um tipo de oposição persistente, insistente, extremamente organizada e diversificada por parte da ANIMAL que nunca antes se tinha registado em Portugal.

Entre as muitas iniciativas que se desenvolveram até aqui (e as muitas que ainda virão), durante 2008, para exprimir oposição cerrada à brutalização e tortura de touros e cavalos em touradas em Portugal, houve uma intervenção continuada, e tão dura de manter (por parte dos agentes desta) quanto dura de suportar (por parte dos visados por esta), que marcou a época tauromáquica na abominável Praça de Touros do Campo Pequeno: as manifestações-caçaroladas contra as touradas que tiveram lugar em frente àquele monumento obscuro de cada vez que ali houve uma tourada.

Num período de cinco meses, entre Maio e Setembro, realizaram-se 14 ruidosas, firmes e incómodas manifestações-caçaroladas em frente ao Campo Pequeno. Nunca em Portugal uma estratégia de protesto de rua continuado e quase omnipresente (em relação às iniciativas tauromáquicas de que o Campo Pequeno foi lamentavelmente palco) havia sido implementada em qualquer área da defesa dos direitos dos animais. Este ano, isso aconteceu e apenas para experienciar um sucesso estrondoso.

Com uma média de 35 participantes (sendo que, em algumas das manifestações, estiveram cerca de 50 manifestantes, enquanto noutras estiveram cerca de 25), o sucesso das manifestações-caçaroladas ficou a dever-se não tanto à persistência da ANIMAL, mas essencialmente a estes 35 “gatos pingados” (como os aficcionados e agentes tauromáquicos lhes chamaram muitas vezes), que não hesitaram em quase perder a voz e ensurdecer em cada protesto, em nome dos animais que estavam a ser torturados lá dentro. Cada pessoa que não faltou à chamada para a acção, sobretudo aquelas que estiveram sempre ou quase sempre presentes, foram responsáveis por um momento histórico no exercício da oposição e da pressão continuada contra as touradas.

Graças a estas/estes bravas/bravos “gatas/gatos pingadas/pingados”, a Praça de Touros do Campo Pequeno não foi, este ano, palco de entradas triunfantes pelas suas portas e o ambiente em torno desta praça de touros, antes de cada tourada, foi tudo menos agradável para quem ali estava.

Graças ao incómodo de ter que enfrentar as críticas firmes e muito audíveis dos manifestantes anti-touradas, o público tauromáquico que se deslocou às touradas no Campo Pequeno este ano cedo começou a tentar ir para a praça o mais tarde possível, de modo a estar o mínimo tempo possível fora da praça, à espera de entrar, enquanto um grupo determinado de pessoas estava ali para lhes dizer que a barbaridade a que iriam assistir dentro de momentos se tratava de um acontecimento vergonhoso que correspondia e corresponde apenas a um gosto doentio.

Graças ao desprestígio de terem que passar em frente à praça de touros sendo severamente criticados pelos manifestantes, as entradas dos grupos de forcados na praça deixaram de ser triunfantes, passando a ser feitas de forma discreta e à distância.

Do mesmo modo, graças ao ruído produzido pelos manifestantes em protesto contra a tortura de animais, a entrada da banda tauromáquica na praça, circulando já a tocar do lado de fora da praça, cedo deixou de acontecer de todo. A banda passou a entrar de forma discreta, distante e silenciosa.

Acabaram-se as entradas triunfantes para a câmara da tortura. Quem ali fosse deleitar-se com aquela obscenidade sabia que poderia passar, claro (uma vez que a lei portuguesa ainda permite esta brutalidade) – mas que não passaria sem crítica, sem a acusação que merecia, sem aquela censura incómoda com que aqueles marialvas ávidos de sangue não queriam nem querem lidar. Não tardaram em lamentar que o Estado Novo tivesse desaparecido, “caso existisse, seríamos varridos dali”, revelando a sua natureza despótica e alérgica à liberdade. Mas despejaram o seu fel tirânico e sanguinário nos pobres animais cuja tortura trouxe lhes divertimento.

Para tentar abafar o barulho das manifestações-caçaroladas, a Praça de Touros do Campo Pequeno instalou do lado de fora potentes altifalantes, começando a fazer tocar músicas de ambiente tauromáquico sempre que os manifestantes chegavam e terminando a emissão sempre que os manifestantes terminavam o protesto. Mas o ruído das manifestações não ficou aquém do ruído da praça, tendo este apenas contribuído para que tal medição de forças sonoras tornasse a presença fora da praça ainda mais desagradável para os aficcionados que ali se dirigiam – e não para os manifestantes, que estavam ali por motivos éticos e não em busca de conforto.

Da parte dos aficcionados, houve o que se esperava – muitas provocações e ofensas pessoais – e o que não se esperava – um aficcionado chegou a cuspir a um dos manifestantes. Da parte dos manifestantes anti-tourada, houve a atitude certa – firmeza, determinação, sentido de justiça, palavras justas, críticas rectas e confiança no excelente trabalho de manutenção da segurança e da ordem que a PSP ali desenvolveu.

Este ciclo de manifestações terminou, na sua primeira e longa fase, na passada 5.ª feira, 11 de Setembro. Num dia em que, nos EUA e por todo o mundo, se lembrava o terrível acontecimento do 11 de Setembro de 2001 e se prestava homenagem às vítimas daquele acto hediondo, a Praça de Touros do Campo Pequeno foi mais uma vez palco de uma tourada – com a SIC a emiti-la. E, apesar da SIC ter entrado nesta medição de forças com a ANIMAL e com os portugueses que querem ver as touradas a passar à história, perdeu o combate. A uma tourada potencialmente popular da revista “Caras”, apoiada pela “TV Mais” e exibida pela SIC, nem meia praça de touros ficou cheia e as audiências televisivas foram tão pobres quanto se esperava que fossem. Mas, mais do que o combate, a SIC perdeu a sua boa reputação, construída durante anos a fio, enquanto estação que se mantinha à margem da emissão de touradas. Pelos vistos, nem a data simbólica do 11 de Setembro demoveu a SIC de se sujar desta maneira, mas os actos ficam com quem os pratica.

Agora, é tempo de preparação para a Grande Manifestação Nacional Contra as Touradas.

No dia 2 de Outubro, a partir das 19h30m, em frente à Praça de Touros do Campo Pequeno, por ocasião da última tourada que ali acontecerá este ano, a grande manifestação anti-touradas do ano também terá ali lugar, para encerrar em grande este ciclo de manifestações e começar a segunda fase de oposição às touradas em Portugal.

Por favor, não falte a esta chamada para a acção em defesa dos touros e cavalos, para que não mais sejam vítimas da tortura tauromáquica. Esteja presente e traga outras/os amigas/os dos animais. Mais do que nunca, eles precisam de todos nós para falarmos por eles.

Para mais informações ou para se inscrever no transporte gratuito organizado pela ANIMAL a partir de várias zonas do país, por favor contacte a ANIMAL, através do
campanhas@animal.org.pt ou do 96 235 81 83.