sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Criar ratos de laboratório custa 36 milhões de euros

Azambuja: Investimento é forma do Governo "calar" Município pela "perda" do aeroporto da Ota

(In “Jornal de Notícias”, 5 de Setembro de 2008)

Um animalário com cerca de 25 mil gaiolas, onde serão criados, essencialmente, ratos destinados à investigação científica. Este é o único projecto privado que ruma à Azambuja incluído no pacote de compensações do Governo.

O objectivo do futuro centro de produção de cobaias é fornecer vários animais - ratos, peixes ou coelhos - a universidades e a laboratórios farmacêuticos em Portugal e a toda a Europa. Trata-se de um projecto da Fundação Champalimaud, numa parceria com a Universidade de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian.

O animalário ou biotério irá surgir na zona industrial de Vila Nova da Rainha/Azambuja, junto às antigas instalações da General Motors, que encerrou as portas há um ano e meio. O projecto insere-se no conjunto de medidas de compensação do Governo aos 16 concelhos da região a Norte e Oeste de Lisboa, que na última década viram dada como certa a construção do novo aeroporto na Ota.

De um pacote com diversos projectos estimados em 2,1 mil milhões de euros, o animalário é o único investimento liderado por entidades privadas. Os restantes são encabeçados pelas administrações Central e Local.

As cobaias produzidas naquele pólo destinam-se a ser utilizadas em diversas áreas científicas, mas com maior incidência nas doenças oncológicas e cerebrais, segundo fonte oficial da Fundação Champalimaud. O projecto traduz-se num investimento de 36 milhões de euros. Podendo criar não só centenas de postos de trabalho directos especializados (cientistas e veterinários) como indirectos, nos casos de produtores de rações, que fornecem aquele concelho que produz, essencialmente, gado bovino.

As negociações entre o município e a Fundação Champalimaud ocorreram nos últimos três meses, mas terá sido o ministro das Obras Públicas a incentivar a escolha do local, segundo o presidente da Câmara Municipal, Joaquim Ramos.

"Decorreu tudo num tempo recorde. Convidámos Leonor Beleza [presidente da Fundação Champalimaud] que, perante as condições que lhe oferecemos, mostrou-se logo interessada. Também temos excelentes acessos. Mas sem dúvida o ministro Mário Lino fez um enorme esforço para que a Azambuja ficasse com esta produção de animais", explicou o autarca (PS). "Embora não fossemos um concelho dedicado à investigação científica, esta é uma área em que poderemos vir a apostar e atrevo-me a dizer que, talvez com o aeroporto [que ficará em Alcochete] não houvesse lugar para ela", salientou.

O facto de Azambuja ter saído da Junta Metropolitana de Lisboa para entrar na Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo, onde pode usufruir de fundos comunitários de desenvolvimento, terá sido outra das razões para a sua escolha.

O mega viveiro de animais irá ser construído num terreno de três hectares, junto à EN3, não existindo ainda qualquer projecto de arquitectura aprovado.