terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Parques da Maia e Montemor-o-Velho mantêm portas abertas, apesar de irregularidades

(In "Jornal de Notícias", 9 de Dezembro de 2008)

Um está ilegal, fica na Maia e é conhecido pelas deficientes condições em que alberga os animais. O outro foi licenciado e opera em Montemor-o-Velho sem respeitar os requisitos para obter uma licença. Ambos são parques zoológicos portugueses.

O Zoo da Maia tem sido apontado como um dos parques com mais deficiências em Portugal, mas continua a funcionar sem licença, obrigatória desde 2005. Uma investigação recente identificou falhas graves que persistem, apesar das alegadas obras de melhoramento.

Localizado na Maia e propriedade da Junta de Freguesia local, este Zoo já foi várias vezes visitado por organizações de bem-estar animal que apontaram deficiências.

O próprio director-geral de Veterinária reconheceu à Lusa, em Maio de 2007, que o Zoo da Maia era o caso mais complicado de resolver, principalmente desde a obrigatoriedade do licenciamento destas estruturas.

Após várias fiscalizações, as autoridades (Direcção-Geral de Veterinária e Instituto de Conservação da Natureza) concluíram que existia um défice de qualidade, nomeadamente animais em excesso e outras deficiências graves.

O Director Geral de Veterinária deu, na altura, um prazo para o Zoo da Maia resolver, pelo menos, o seu problema de excesso de espécies e melhorar as condições: final de Maio de 2007.

Contudo, uma investigação realizada já este ano pela consultora do Eurogrupo para os Animais em Portugal, a bióloga Leonor Galhardo, detectou deficiências graves neste espaço.

A especialista em bem-estar animal caracteriza este zoo como "muito mal planeado, pequeno, inapropriado e com áreas velhas".

"Não há neste espaço qualquer política educacional activa, tirando uma auto-intitulada sala educacional com uma exposição fotográfica".

Entre os vários aspectos negativos identificados durante a investigação consta o excesso de animais para o espaço, a existência de várias espécies em condições sociais inadequadas e a inexistência de actividades educacionais e de conservação.

O alojamento dos animais revelou-se deficiente, com casos em que os recintos são completamente desapropriados, alguns velhos e decadentes, com material eléctrico sem protecção e animais demasiado perto do acesso do público.

Um dos exemplos apresentados é a cela de um mandril, mantido num chão de cimento e com porcos-espinhos, uma condição "inaceitável" para um primata. As condições ambientais - temperatura, ventilação, humidade - são inexistentes ou ineficientes neste zoo.

As condições de segurança também revelaram várias deficiências, como a utilização de vidros quebráveis ou portas com fechaduras que facilmente podem ser abertas pelo público.

A própria protecção do zoo é inadequada, sento possível a entrada ou saída de animais deste parque que está situado no meio de uma zona residencial.

A investigação do Eurogrupo estendeu-se ainda ao Europaradise, um parque zoológico em Montemor o Velho que já obteve licenciamento da Direcção Geral de Veterinária e está, por isso, legal.

Contudo, a avaliação do Eurogrupo identificou aspectos que têm de ser levados em conta para que uma licença seja dada e que não o são neste parque.

A especialista apurou, por exemplo, que tudo no alojamento dos primatas e das aves tropicais está errado, defendendo uma solução para estes animais o mais rápido possível.

Também o alojamento dos predadores - como os tigres - é inadequado e fora do contexto deste parque. As actividades de educação e conservação, um dos requisitos para o licenciamento dos parques, são neste zoo inexistentes, de acordo com a investigação.