(Por Romana Borja-Santos. In “Público”, 6 de Maio de 2009)
Se Viana do Castelo, Braga, Cascais e Sintra passaram a não autorizar touradas nos seus concelhos, porque é que permitem abortos? A pergunta é feita pela associação Juntos pela Vida, que já enviou uma carta aos autarcas destas zonas, para que reflictam sobre a questão e tomem uma posição. O movimento pediu também à associação Animal que se junte à causa.
Apesar de ainda não ter recebido a missiva, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, o socialista Defensor Moura, que foi pioneiro na questão das touradas, considera que “não há comparação possível entre as duas coisas” e que estas associações deviam “fazer um investimento forte na prevenção e na educação sexual”, pois proibir o aborto não evita que ele exista.
“Sou contra o aborto mas não sou contra a liberdade das mulheres de tomarem a sua opção”, esclareceu o autarca, que disse ver as touradas como “provocação de sofrimento num animal apenas para divertimento de alguns”. “A questão do aborto já é madura e não se pode usar todos os motivos para debater uma questão já discutida pela sociedade portuguesa”, asseverou.
Para o presidente da Animal “este apelo é absurdo” e “não inspira grandes comentários”. Miguel Moutinho fez questão de esclarecer, em declarações ao PÚBLICO, que os municípios não proibiram pois não têm competência legislativa. “Apenas não vão conceder autorização municipal para os eventos em que for necessária”, explicou. Por isso, entende que a associação pró-vida está a fazer uma “confusão tremenda de poderes” ao pedir às autarquias para fazerem algo que não seria lícito no domínio da saúde.
Causas diferentes
Depois, Miguel Moutinho sublinhou que a sua associação se dedica aos direitos dos animais: “Não nos cabe a nós produzir qualquer espécie de comentário sobre o problema ético do aborto. Seria impossível encontrar consenso junto dos nossos apoiantes pois o que nos juntou foi outra causa”. Para a Animal o objectivo da Juntos pela Vida é “provocar uma posição lícita tomada pelos municípios e que tem perfeita legitimidade”. E defendeu que só há este choque porque em Portugal pouca coisa tem sido feita pelos animais e que “quem é sério não pode tratar questões tão delicadas desta forma leviana”.
Em comunicado, a Juntos pela Vida escreve que nestas autarquias “há animais da espécie humana sujeitos às torturas mais horrendas” e enumera os locais onde são feitas interrupções voluntárias da gravidez (Centro de Saúde de Viana do Castelo, Hospital de S. Marcos, em Braga, Hospital de Cascais e Hospital Amadora-Sintra).
Ao PÚBLICO Pedro Monteiro, da associação, disse que esta foi a forma que encontraram para “através de uma caricatura chamar a atenção para um problema” que pode hipotecar o futuro da sociedade. E acrescentou: “Não é possível que perante dados científicos que provam que o bebé sofre fiquemos como se fossemos surdos”. Sobre as touradas em concreto, preferiu não se comprometer com nenhuma posição, pois não está a falar em nome pessoal, mas lamentou que não haja a mesma “coerência” na protecção dos direitos dos bebés.
Depois, a associação reitera que o aborto é a “tortura mais horrível e sangrenta, até à morte”, pelo que pretende que os “municípios sejam livres destes actos de rara brutalidade e selvajaria”. A Juntos Pela Vida deixa, ainda, um apelo à associação Animal para que se envolva nesta luta. E acrescenta: “Como foi possível chegar ao estado em que para defender o direito das meninas e das suas mães a não sofrerem tratamentos desumanos e cruéis é necessário invocar um regulamento municipal feito para animais?”.
“Cidades anti-touradas"
Recorde-se que, no início do ano, Viana do Castelo foi a primeira a dar um passo no sentido de se declarar uma “cidade anti-touradas”. Depois, os presidentes da Câmara de Braga e de Cascais anunciaram a não autorização de touradas nos seus concelhos, sendo que este último também não permitirá espectáculos de circo com animais em estruturas desmontáveis. Sintra foi a última a dar este passo, no final de Abril.
De acordo com uma sondagem citada pela Animal, feita em Março de 2007, 61,1 por cento dos habitantes do norte do país declaram querer que as touradas sejam proibidas por lei em todo o país e 64,5 por cento que declaram querer que as cidades e vilas em que residem sejam declaradas cidades e vilas anti-touradas.
Se Viana do Castelo, Braga, Cascais e Sintra passaram a não autorizar touradas nos seus concelhos, porque é que permitem abortos? A pergunta é feita pela associação Juntos pela Vida, que já enviou uma carta aos autarcas destas zonas, para que reflictam sobre a questão e tomem uma posição. O movimento pediu também à associação Animal que se junte à causa.
Apesar de ainda não ter recebido a missiva, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, o socialista Defensor Moura, que foi pioneiro na questão das touradas, considera que “não há comparação possível entre as duas coisas” e que estas associações deviam “fazer um investimento forte na prevenção e na educação sexual”, pois proibir o aborto não evita que ele exista.
“Sou contra o aborto mas não sou contra a liberdade das mulheres de tomarem a sua opção”, esclareceu o autarca, que disse ver as touradas como “provocação de sofrimento num animal apenas para divertimento de alguns”. “A questão do aborto já é madura e não se pode usar todos os motivos para debater uma questão já discutida pela sociedade portuguesa”, asseverou.
Para o presidente da Animal “este apelo é absurdo” e “não inspira grandes comentários”. Miguel Moutinho fez questão de esclarecer, em declarações ao PÚBLICO, que os municípios não proibiram pois não têm competência legislativa. “Apenas não vão conceder autorização municipal para os eventos em que for necessária”, explicou. Por isso, entende que a associação pró-vida está a fazer uma “confusão tremenda de poderes” ao pedir às autarquias para fazerem algo que não seria lícito no domínio da saúde.
Causas diferentes
Depois, Miguel Moutinho sublinhou que a sua associação se dedica aos direitos dos animais: “Não nos cabe a nós produzir qualquer espécie de comentário sobre o problema ético do aborto. Seria impossível encontrar consenso junto dos nossos apoiantes pois o que nos juntou foi outra causa”. Para a Animal o objectivo da Juntos pela Vida é “provocar uma posição lícita tomada pelos municípios e que tem perfeita legitimidade”. E defendeu que só há este choque porque em Portugal pouca coisa tem sido feita pelos animais e que “quem é sério não pode tratar questões tão delicadas desta forma leviana”.
Em comunicado, a Juntos pela Vida escreve que nestas autarquias “há animais da espécie humana sujeitos às torturas mais horrendas” e enumera os locais onde são feitas interrupções voluntárias da gravidez (Centro de Saúde de Viana do Castelo, Hospital de S. Marcos, em Braga, Hospital de Cascais e Hospital Amadora-Sintra).
Ao PÚBLICO Pedro Monteiro, da associação, disse que esta foi a forma que encontraram para “através de uma caricatura chamar a atenção para um problema” que pode hipotecar o futuro da sociedade. E acrescentou: “Não é possível que perante dados científicos que provam que o bebé sofre fiquemos como se fossemos surdos”. Sobre as touradas em concreto, preferiu não se comprometer com nenhuma posição, pois não está a falar em nome pessoal, mas lamentou que não haja a mesma “coerência” na protecção dos direitos dos bebés.
Depois, a associação reitera que o aborto é a “tortura mais horrível e sangrenta, até à morte”, pelo que pretende que os “municípios sejam livres destes actos de rara brutalidade e selvajaria”. A Juntos Pela Vida deixa, ainda, um apelo à associação Animal para que se envolva nesta luta. E acrescenta: “Como foi possível chegar ao estado em que para defender o direito das meninas e das suas mães a não sofrerem tratamentos desumanos e cruéis é necessário invocar um regulamento municipal feito para animais?”.
“Cidades anti-touradas"
Recorde-se que, no início do ano, Viana do Castelo foi a primeira a dar um passo no sentido de se declarar uma “cidade anti-touradas”. Depois, os presidentes da Câmara de Braga e de Cascais anunciaram a não autorização de touradas nos seus concelhos, sendo que este último também não permitirá espectáculos de circo com animais em estruturas desmontáveis. Sintra foi a última a dar este passo, no final de Abril.
De acordo com uma sondagem citada pela Animal, feita em Março de 2007, 61,1 por cento dos habitantes do norte do país declaram querer que as touradas sejam proibidas por lei em todo o país e 64,5 por cento que declaram querer que as cidades e vilas em que residem sejam declaradas cidades e vilas anti-touradas.