(In “Público”, 22 de Setembro de 2009)
Há cães grandes como um labrador e pequenos como um pekinois . Há pastores-alemães, jack russel ou rafeiros. Os donos, tal como os animais, são todos diferentes: idosos, mulheres jovens, homens, famílias, grupos de punks com meias rasgadas. Uns estão desempregados, outros doentes ou sem abrigo, bastantes reformados: pessoas que, por uma razão ou por outra, ficaram sem o rendimento habitual e recorrem à Tiertafel, uma espécie de sopa dos pobres para os animais.
Na antiga escola de Treptow, uma zona de Berlim Leste bastante periférica, dezenas de pessoas esperam a sua vez com mochilas e sacos para levar ração e biscoitos, e não só para cães e gatos: o banco alimentar tem comida para pássaros, hamsters, porquinhos da Índia... "e agora até temos um cavalo", diz Mike Schäfer, um dos voluntários. Antes de receberem a comida, os donos dos animais tiveram de se registar, mostrando comprovativos de rendimento - pensões de reforma, subsídio de desemprego ou outras prestações sociais. Outra condição é que não tenham acabado de adquirir o animal.
A sopa dos pobres dos animais abriu em Berlim em Outubro de 2008, e há já outras iniciativas em várias cidades alemãs. Em Berlim são ajudados uns 800 donos com cerca de 2125 animais; a nível nacional são oito mil donos.
Cada sábado, cerca de dez voluntários estão na antiga escola para ajudar a distribuir os cerca de 900 quilos de comida que vêm de doações das empresas que produzem comida de animais - "quando vêem que o prazo está quase a acabar e já não podem vender dão-nos", explica Mike Schäfer. Também há muitas doações individuais, em comida, trelas, brinquedos, tudo e mais alguma coisa. Com a crise, muitas pessoas deixam de ter hipótese de tratar os seus animais, e cada vez mais são abandonados. A ideia da Tiertafel é que as pessoas que perderam o rendimento habitual - e passaram a contar só com os 350 euros do subsídio de desemprego - possam manter os seus animais.
Claudia, uma mulher de 50 anos que parece mais jovem sobretudo por causa do cabelo meio rasta - embora discreto, apanhado no alto da cabeça - e que prefere não dizer o apelido, está nesta posição: de um emprego normal passou a receber a ajuda do Estado para desempregados de longa duração - 350 euros, para os desempregados de curta duração o subsídio é bastante maior - e isso não é suficiente. Confessa que alimenta o seu cão com a ração que vai levar daqui e com restos de carne que os supermercados deitam fora, um dia após o fim do prazo.
Tommy Pohle, um engenheiro informático magro de óculos redondos e postura zen, conta que o trabalho que faz já não lhe dá o suficiente para si, a mulher, que entretanto ficou doente, os dois filhos, a cadela e o gato. A Tiertafel faz com que consiga manter os animais bem alimentados. "Temos ajuda do Estado, claro, mas não chega para tudo", sorri, olhando para a cadela. Foi afectado pela crise? "Bem, sem dúvida que há dois anos estava muito melhor."
Veterinário também
"Não tenho emprego e o cão tem de comer", resume Lutz Klimpel, um outro engenheiro informático de rabo de cavalo grisalho e chapéu de abas, que tenta controlar um pastor-alemão especialmente enérgico. "Ajuda muito, são 20 ou 30 euros por mês que poupo - e sem emprego é preciso poupar em tudo."
Sabine Guthke é mais jovem mas está com o mesmo problema de desemprego já há dois anos. "Antes pintava paredes mas agora não há trabalho por causa da crise", diz. "Não temos muito dinheiro para tratar dos animais" - ela tem um cão e um gato - "assim é muito bom podermos ter a comida". E há ainda um veterinário que vem de vez em quando, uma vantagem preciosa, diz Sabrine: "Mas espero não ter de vir cá sempre. Espero conseguir um trabalho depressa e poder passar a ter dinheiro para tratar deles". Mas Sabine não tem grandes expectativas de que as eleições de domingo tragam alterações. "Vou votar, mas não vai mudar grande coisa". Também o informático Klimpel diz que os partidos estão "cada vez mais iguais", e "a grande coligação vai manter-se e não vai necessariamente fazer grande coisa". Claudia gostava que "as coisas mudassem" e que houvesse uma coligação vermelho-vermelho verde (sociais-democratas, Die Linke, Verdes), a única que iria "atacar os bancos que nos puseram nesta embrulhada".
Há cães grandes como um labrador e pequenos como um pekinois . Há pastores-alemães, jack russel ou rafeiros. Os donos, tal como os animais, são todos diferentes: idosos, mulheres jovens, homens, famílias, grupos de punks com meias rasgadas. Uns estão desempregados, outros doentes ou sem abrigo, bastantes reformados: pessoas que, por uma razão ou por outra, ficaram sem o rendimento habitual e recorrem à Tiertafel, uma espécie de sopa dos pobres para os animais.
Na antiga escola de Treptow, uma zona de Berlim Leste bastante periférica, dezenas de pessoas esperam a sua vez com mochilas e sacos para levar ração e biscoitos, e não só para cães e gatos: o banco alimentar tem comida para pássaros, hamsters, porquinhos da Índia... "e agora até temos um cavalo", diz Mike Schäfer, um dos voluntários. Antes de receberem a comida, os donos dos animais tiveram de se registar, mostrando comprovativos de rendimento - pensões de reforma, subsídio de desemprego ou outras prestações sociais. Outra condição é que não tenham acabado de adquirir o animal.
A sopa dos pobres dos animais abriu em Berlim em Outubro de 2008, e há já outras iniciativas em várias cidades alemãs. Em Berlim são ajudados uns 800 donos com cerca de 2125 animais; a nível nacional são oito mil donos.
Cada sábado, cerca de dez voluntários estão na antiga escola para ajudar a distribuir os cerca de 900 quilos de comida que vêm de doações das empresas que produzem comida de animais - "quando vêem que o prazo está quase a acabar e já não podem vender dão-nos", explica Mike Schäfer. Também há muitas doações individuais, em comida, trelas, brinquedos, tudo e mais alguma coisa. Com a crise, muitas pessoas deixam de ter hipótese de tratar os seus animais, e cada vez mais são abandonados. A ideia da Tiertafel é que as pessoas que perderam o rendimento habitual - e passaram a contar só com os 350 euros do subsídio de desemprego - possam manter os seus animais.
Claudia, uma mulher de 50 anos que parece mais jovem sobretudo por causa do cabelo meio rasta - embora discreto, apanhado no alto da cabeça - e que prefere não dizer o apelido, está nesta posição: de um emprego normal passou a receber a ajuda do Estado para desempregados de longa duração - 350 euros, para os desempregados de curta duração o subsídio é bastante maior - e isso não é suficiente. Confessa que alimenta o seu cão com a ração que vai levar daqui e com restos de carne que os supermercados deitam fora, um dia após o fim do prazo.
Tommy Pohle, um engenheiro informático magro de óculos redondos e postura zen, conta que o trabalho que faz já não lhe dá o suficiente para si, a mulher, que entretanto ficou doente, os dois filhos, a cadela e o gato. A Tiertafel faz com que consiga manter os animais bem alimentados. "Temos ajuda do Estado, claro, mas não chega para tudo", sorri, olhando para a cadela. Foi afectado pela crise? "Bem, sem dúvida que há dois anos estava muito melhor."
Veterinário também
"Não tenho emprego e o cão tem de comer", resume Lutz Klimpel, um outro engenheiro informático de rabo de cavalo grisalho e chapéu de abas, que tenta controlar um pastor-alemão especialmente enérgico. "Ajuda muito, são 20 ou 30 euros por mês que poupo - e sem emprego é preciso poupar em tudo."
Sabine Guthke é mais jovem mas está com o mesmo problema de desemprego já há dois anos. "Antes pintava paredes mas agora não há trabalho por causa da crise", diz. "Não temos muito dinheiro para tratar dos animais" - ela tem um cão e um gato - "assim é muito bom podermos ter a comida". E há ainda um veterinário que vem de vez em quando, uma vantagem preciosa, diz Sabrine: "Mas espero não ter de vir cá sempre. Espero conseguir um trabalho depressa e poder passar a ter dinheiro para tratar deles". Mas Sabine não tem grandes expectativas de que as eleições de domingo tragam alterações. "Vou votar, mas não vai mudar grande coisa". Também o informático Klimpel diz que os partidos estão "cada vez mais iguais", e "a grande coligação vai manter-se e não vai necessariamente fazer grande coisa". Claudia gostava que "as coisas mudassem" e que houvesse uma coligação vermelho-vermelho verde (sociais-democratas, Die Linke, Verdes), a única que iria "atacar os bancos que nos puseram nesta embrulhada".